Comida Confusa
Da escada rolante já se podia ver aquela bancada lotada de pessoas, disputando cada minuto da atenção do pobre atendente da lanchonete do shopping:
- Mãe, a gente vai na lanchonete Big, né?
A menina se refere è lanchonete lotada.
- Vamos sim filha.
Isso soou como um baque no ouvido da filha mais velha, e saudável, que preferia algo mais leve para se comer às cinco da tarde. Não foi nem possível ela expressar sua opinião, a mais nova já descia escada rolante correndo, desesperada para pegar um lugar na fila que parecia não ter fim.
- Então, não vai acompanhar sua irmãzinha?
- Claro, mamãe – disse a filha entre dentes.
A mais velha caminhou em passos lentos e pesados até sua irmã, que já tinha empurrado uns e cotovelado outros para conseguir um lugar melhor naquela fila.
- Eu vou querer um Big queijo, e você?
A irmã mais velha respondeu seriamente:
- Você quer dizer, um Big Colesterol?
- Quê?
- Esquece.
A fila andava lentamente e a filha mais velha resolveu prestar atenção nas pessoas que estavam passando pela mesma situação que ela. Notou que a mãe de uma menininha, que deveria ter uns quatro anos, perguntava à ela o que ela queria, a menina não respondia, só apontava para um bichinho que estava em um cartaz e murmurava algo sem sentido. A fila andou mais um pouco e sua irmãzinha lhe disse:
- Agora não sei mais o que eu quero...
- Como assim Beatriz?
- O bichinho que vem com o Big Feliz é tão bonitinho e peludo... Acho que vou pedir esse!
- Tudo bem, menos artérias entupidas para você no futuro...
- Como assim?
- Esquece.
Um casal de namorados ao lado dava risadinhas e envolvia o nome dos lanches no meio da sua conversa melosa:
- Se existisse um lanche chamado Big Amor, seria feito para nós!
- Eu estou em dúvida entre o Big Carne, o Big - Big Tudo ou o Big - Mega Bacon
- Ah, como você é meigo, amor.
As duas irmãs já se aproximavam do caixa, até que Beatriz , a irmã mais nova, diz para sua irmã.
- Ana, acho que eu não vou querer lanche, não!
- Como assim?
- Acho que eu vou querer aqueles empanadinhos de frango pequenos, são gostosos também.
- Não sabia que gripe aviária vinha na versão “mini”
- Não entendi...
- Esquece
Finalmente chegaram ao caixa, e o atendente sorriu torto:
- Bem vindos à Big, posso anotar seu pedido?
- Por favor, será uma porção de empanados de frango...
- Espera irmã, espera!
- O que foi agora, Beatriz?
- Eu pensei melhor, eu quero o Big Carne Júnior!
- Ta, então, por favor, moço, quero um Big Carne com refrigerante.
- Não é Big Carne! Esse lanche é muito grande! Eu quero o Big Carne Júnior, Lê!
- Então vai ser o Big...
- Sem cebola, Sem cebola!
- Não é melhor você pedir Biazinha querida?
- Não, tenho vergonha!
Ana inspirava e expirava para tentar manter a calma, enquanto o atendente confirmava o pedido:
- Recapitulando, será um Big Queijo Júnior e o refrigerante, é isso?
- Não! – Berrou Beatriz – É de carne, carne!
O atendente estava confuso:
- O refrigerante?
Beatriz estava muito impaciente:
- E existe um refrigerante de carne, moço?
- Acho que sim, essas multinacionais inventam cada coisa...
- Eu não sei o que são multinacionais, eu só sei que eu quero meu lanche!
Beatriz brigava com o pobre do atendente, e as pessoas olhavam a discussão entre uma menina de 10 anos e um homem de 20.
- Eu quero um Big Carne Júnior! Eu quero, eu quero!
Ana estava mais impaciente que a irmã, e gritou para o atendente:
- Por favor, um Big Carne Júnior, sem cebola, e com refrigerante, e que não seja bovino, ouviu?
Ele obedeceu como um soldado e em cinco minutos o pedido estava pronto.
Beatriz saiu saltitante com sua bandeja para a mesa que sua mãe havia reservado para o almoço, esta ainda interrogou Ana sobre a demora no pedido, ela não respondeu apenas dirigiu-se a um self-service ao lado da lanchonete, onde, com certeza, não haveria pratos com nomes tão complicados e confusos, bom, no máximo, um salmão ao molho de maracujá e amêndoas silvestres
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