segunda-feira, 1 de julho de 2013

Camus na Linha 2 - Verde


O transporte público, agora pago com 3 reais novamente, é tachado como uma das coisas mais clichês da cidade grande.
Não há mais espaço para questionamentos quando se usa o ônibus ou o metrô, mas sim para pequenos cochilos, fones de ouvido, briga por assentos (de preferência, aqueles do lado de alguma janela) e algum eventual problema de funcionamento.

Rotina...

Era mais um sábado pegando o metrô da Linha Verde sentido Vila Madalena:
Tamanduateí - Sacomã - Alto do Ipiranga - Santos-Imigrantes - Chácara Klabin - Ana Rosa e...

E nada, não naquele dia.

Parei de ler meu texto das aulas de teatro e escutei a voz feminina que ecoava no vagão dizendo que aquele trem retornaria  para a Vila Prudente.
"A linha verde tá cada vez pior", pensei comigo mesma e saí do trem.
Mudei de plataforma na estação Ana Rosa e confundi o espaço-tempo: eram tantas pessoas que eu me senti no Brás, às 6 da tarde.
A voz feminina do além voltou e disse: "Devido à presença de usuário na via, todos os trem da Linha Verde estarão circulando com velocidade reduzida."
Eu ouvi diversos "aah", "se ferrar", "será que tem algum ônibus que vai daqui pra Paulista?", "brincadeira..."
Foram quase 20 minutos esperando um trem aparecer. Quando ele finalmente chegou, o caos se instalou, chegando ao nível de "Sé às 6 da tarde".
Quando me vi sentada, pessoas ao meu lado começaram a discutir o que houve.
"Um cara se jogou da plataforma da estação Clínicas e morreu, disseram que ele tá estatelado nos trilhos".
"Que horror".
"E por que não se mata em casa? Fica atrapalhando a vida dos outros...".

Opa! Seria esse o gancho para uma reflexão no transporte público da grande São Paulo?
É, foi.

Ofensa contra Deus, questão de honra ou, minha definição favorita feita por Albert Camus, "grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia."
Seja qual for o termo que o designa, o suicídio sempre fora um assunto extremamente delicado, senão polêmico.
O rapaz do metrô foi uma das 24 pessoas que cometem suicídio por dia, no Brasil.
Porém, chega a ser insensível reduzir esse fato apenas a números...

"Foi só mais um..."

Tirar a própria vida é algo digno de um homem corajoso ou covarde?
Bom, depende de que parte do mundo e em qual época você está.

Na época dos samurais, se um guerreiro cometesse suicídio, ou o chamado seppuku, era respeitado por tentar restaurar sua honra. Ainda no Japão, mas alguns séculos depois, existiram os pilotos suicidas, que usavam capacetes(?), denominados kamikazes, que morriam em combate durante a 1ª Guerra Mundial.

Entretanto, a maioria das religiões desaprovam a ideia. Os cristãos e judeus dizem que se matar é um pecado gravíssimo, os islâmicos alegam que o suicídio é visto como uma descrença em Deus (alguém chama a Al-Qaeda e o Hamas no whatsapp e conte a grande novidade!) e os hindus e budistas também não simpatizam com a prática.

O fatídico "recurso final" pode acontecer por várias razões e só cabe aos passageiros do metrô daquele sábado ensolarado imaginarem o que ocorrera, de fato.

"Tristeza profunda..."
"Drogas, talvez?"
"Perdeu o emprego, aposto..."
"Acho que tinha alguma doença mental..."

Quando desembarquei na estação de sempre, pude ouvir a voz feminina do além uma última vez:
"A circulação de trens foi normalizada"
Isso, para mim, soou quase como: "Chega de existencialismo e volte ao seu texto do teatro".

Só quebrando um pouco o clima obeso do post:



É isso, gente
Minhas férias começaram! Então virão mais posts por aí, para a (in)felicidade de vocês!
Fui-me



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