segunda-feira, 29 de julho de 2013

Do caderninho pardo

O curta-metragem do David Lynch havia acabado e um canto breve, porém bonito, de um passarinho amezinou a atmosfera sombria, digna do diretor, que se alastrava pelo quarto.

Ela foi até a janela e lá estava a pequena ave, um simples passarinho urbano, pousada na tela de tecido já carcomida pelo tempo.
O contraste era bonito.
Tirou uma foto.
5,6 likes em dois minutos.
Voltou ao seu computador.
Porém, dessa vez, a cantoria não parava. Ela tentou mudar de cômodo, foi para a sala, para a cozinha, mas a melodia continuava em alto e bom som. Voltou ao seu quarto, abriu a janela novamente na tentativa de localizar a ave, não conseguiu, mas sentiu um vento fresco no rosto, nem parecia inverno.
E assim se deixou ficar por alguns minutos.
A cantoria do pássaro continuava, parecendo convidá-la a sair, o vento continuava soprando e seus olhos conseguiam enxergar beleza até no edifício cor de baunilha, do qual sempre reclamava por estragar a vista do seu quarto.
Decidiu, por fim, sair.
Abandonou Lynch, resgatou seu caderninho pardo e saiu pela porta da frente com três reais.
No elevador, não pode deixar de notar que sua respiração, sempre um pouco constipada, lembrava vagamente o pio de um passarinho, daqueles urbanos.





Um comentário:

  1. aaaaah que lindo! eu adorei isa, você escreve muito bem
    beijo do seu anonimo e admirador secreto hihihihihihihi <333

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